Every family has its secrets. My family is no exception. A slow pan reveals a room full of objects and paintings. At the end of the pan we see an old man fiddling with something on a desk. The camera comes closer and the old man addresses the camera and shows the audience his unexpected collection of pipe-bags. At some point he says these bags could become great toys for his future granddaughters who could make them into dolls dresses. He mentions an imaginary granddaughter named Catarina playing with these bags.
This is a scene from an archive I found recently in Portuguese Television. It is part of a program shot in 1967 called The collector’s club. The old man is my grandfather. I was born only three years later. I never met my grandfather who died in 1970 and my mother says she never saw this footage. My grandfather wanted to be a writer and my grandmother and her family forced him to become a notary and accept a job far from the family. This was 1926, the very beginning of Salazar’s dictatorship in Portugal. Despite the distance and the few moments at home they had three children, my uncle born in 1930, my aunt born in 1933, and 12 years later, when they were trying to reconcile, my mother was born. When my mother was two years old my grandparents became separated and she only saw her father three times a year. In 1954, my uncle who was studying to become a painter joined the Communist Party, against his father’s political beliefs, known for defending the monarchy.
From then on the family lost track of him because he was living underground. In this film I want to unravel the secrets and mysteries of my Portuguese family during dictatorship. The cloud of Salazar’s regime is finally dissipating, 38 years after the carnation revolution of 1974, families can now make sense of their past, reinterpret old memories and discover new truths. The film will be my journey through my findings between past and present trying to make sense of what has once been kept away from me.
PT: Cada família tem os seus segredos. A minha família não é exceção. Uma panorâmica lenta revela uma sala cheia de objetos e pinturas. No final desse plano, vemos um velho mexendo em algo sobre uma mesa. A câmera aproxima-se e o velho dirige-se à câmera e mostra ao público a sua inesperada coleção de sacos de cachimbo. Certo momento, diz que essas bolsas poderão tornar-se ótimos brinquedos para suas futuras netas, se forem transformadas em vestidos de boneca. Menciona ainda uma neta imaginária chamada Catarina, brincando com essas bolsas.
Esta é uma cena de um arquivo que encontrei recentemente na Televisão Portuguesa. Faz parte de um programa filmado em 1967 chamado Clube do Colecionador. O velho é meu avô. Eu nasci apenas três anos depois. Nunca conheci meu avô, morreu em 1970, e a minha mãe diz que nunca tinha visto essa filmagem. O meu avô queria ser escritor, e a minha avó e a sua família forçaram-no a tornar-se notário e aceitar um trabalho longe da família. Isso foi em 1926, o início da ditadura de Salazar em Portugal. Apesar da distância e dos poucos momentos em casa, tiveram três filhos: o meu tio nasceu em 1930, a minha tia em 1933, e, 12 anos depois, quando estavam a tentar reconciliar-se, nasceu a minha mãe. Quando a minha mãe tinha dois anos, os meus avós separaram-se, e ela só via o pai três vezes por ano. Em 1954, o meu tio, que estava estudando para ser pintor, ingressou no Partido Comunista, contra as convicções políticas do pai, conhecido por defender a monarquia.
A partir de então, a família perdeu-o de vista, porque ele vivia clandestinamente. Neste filme pretendo desvendar os segredos e mistérios da minha família portuguesa durante a ditadura. A nuvem do regime de Salazar está finalmente a dissipar-se 38 anos após a revolução dos cravos de 1974, as famílias podem agora dar sentido ao seu passado, reinterpretar velhas memórias e descobrir novas verdades. Este filme é a minha jornada através das suas descobertas entre o passado e o presente, tentando dar sentido ao que antes foi mantido longe de mim.
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